sábado, 26 de junho de 2010

ALVÍSSARAS, MEU CAPITÃO


Ficha Limpa pode fechar porta do galinheiro para raposas velhas e outras nem tanto


Há uma boa promessa no ar sobre o período eleitoral que começa oficialmente na próxima semana. Notícia rara na cena brasileira e que pode contribuir para deixar políticos reconhecidamente larápios longes das fechaduras que escancaram os cofres públicos à volúpia dos desonestos e traidores do escopo original da política com “p” maiúsculo, que é a promoção do bem-comum. Falo, claro, da legislação que o projeto Ficha Lima, agora Lei, introduz na vida nacional em tão boa hora, quando o quadro geral é de ceticismo e de caso perdido para quem ainda mantinha a utopia, a despeito de todas as evidências, de que o país não muda pela via do voto.

Admito que duvidei da possibilidade da proposta de iniciativa popular chegar tão longe e a tão bom termo. Se pegar, e oxalá isso aconteça, a norma em vigor vai deixar políticos conhecidos pela má fama que construíram ao longo da vida pública fora do páreo em 2010, no que seria fato novo difícil de ser suplantado nessa temporada eleitoral.

É o caso, por exemplo, do ex-governador Joaquim Roriz (PSC), aqui em Brasília. Roriz sonha em pisar voltar a ocupar pela quinta vez a cadeira de governador do Distrito Federal, mas deve ter seus planos barrados pelo Ficha Limpa. Roriz já mandou avisar que não tem condenação proferida por colegiado é que segue candidato. Mas a lei que o Congresso aprovou com absoluta má vontade e por força da pressão vindas das ruas, pode pegar o velho cacique goiano pelo pé.

É que a Justiça Eleitoral já emitiu sinais de que não é somente a condenação colegiada que tira o político da disputa, a renúncia para se livrar de condenação líquida e certa também é pré-requisito para se denunciar a inelegibilidade, que é de oito anos contados a partir do final do manda a que o eleito abriu mão para tentar fugir da penalização. A expectativa por aqui é para saber se Roriz também sai de cena após ter acabado com as carreiras políticas dos ex-afilhados José Roberto Arruda e Paulo Octávio, ambos sem partido, com o rumoroso escândalo provocado com a abertura da caixa de Pandora.

O Ficha Limpa pode frustrar também os planos de Paulo Maluf (PP) em permanecer na Câmara dos Deputados. Maluf já mandou avisar que tem a ficha mais lima do Brasil, para gargalhada geral. Logo ele, que será imediatamente preso caso saia do Brasil e dê de cara com um agente da Interpol em algum aeroporto das mais de uma centena de países em que é procurado. Tem ainda Anthony Garotinho e uma relação de outros nomes país afora conhecidos pela ação deletéria que suas canetas provocaram com o dinheiro público quando o eleitor lhes confiou o exercício do mandato.

Pode ser o início da virada na direção da moralidade com a gestão da coisa pública. Mas não é bom apostar todas as fichas nisso para que a decepção seja menor em caso de vacilo no cumprimento daquilo que o eleitor indicou como desejável para o país. Não é difícil lembrar nomes de políticos que tornaram-se donos de grandes fortunas após passagem por cargos eletivos. Alguns deles entraram em cena com a redemocratização do país na década de 80 e estão por aí a exibir fortes pendores para Midas, por mais improvável que tivessem conseguido montar seus impérios empresariais e de mídia em alguns casos apenas com o salário que perceberam a titulo da remuneração como agentes públicos. Dinheiro abre portas, como se sabe, o que só aumenta o poder e a longevidade dessa gente e da sua capacidade de interferir, nem sempre de forma pública, nas decisões que alteram os destinos da Nação – em círculo vicioso que só espalha descrença em sonha com dias melhores para o país. É nesse quadro que o Ficha Limpa acena com possibilidade de mudança.

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