segunda-feira, 23 de fevereiro de 2009

CRÔNICA

A mais abominável


Acaso fosse instado a apontar a mais abominável de todas as coisas, deixaria de lado as trocentas possibilidades para ficar em uma só: o ato anti-civilizatório de se jogar papel pela janela do carro e suas muitas variáveis da vida urbana nos dias atuais. Para ficar somente no território das chateações relativas ao comportamento humano, esse negócio de atirar lixo na rua pela janela do carro mostra o quão distante ainda estamos do mundo ideal.

Imagine a situação: você pega carona com um sujeito qualquer, por um motivo que não vem ao caso. Lá pelas tantas, ele saca de algum lugar uma caixinha de bala Halls, mão direita no volante, com a outra ele rasga o papel que envolve o drops com os dentes e na maior sem-cerimônia atira o papel no asfalto. Quando você percebe o que vai acontecer já não dá mais tempo para tentar evitar a cena. Uma cena assim rompe o protocolo de todo e qualquer acordo de convivência e, o que é pior, informa da impossibilidade de agir no atacado contra a ameaça de destruição do planeta. Mas um simples papel de bala, atirado ao acaso? Sim, ele mesmo, pois do contrário estamos falando de quimeras esse negócio de ecologia e sustentabilidade.
Como pode ser sustentável um modelo que não consegue impedir sequer o gesto que toca o papel janela afora? País nenhum será uma nação de fato enquanto existir alguém que não dê bola para esse tipo de coisa. Há ministérios com tudo que é nome e, talvez, fosse o caso de se criar por aqui o da Educação Ambiental. Que se não servisse para outra coisa, cuidaria das campanhas educacionais que tentasse trazer para o nível zero o número de ocorrências de pessoas que atiram lixo janelas e portas afora sem ao menos se questionar para aonde aquilo vai e que impacto terá na natureza.

Talvez fosse mesmo o caso de estimar que importância podem ter essas ações individuais na salvação do planeta – sim, há uma planeta irremediavelmente doente que precisa de cura com urgência máxima. O gesto tolo e inconseqüente de jogar papel pela janela do carro anula todo esforço e a crença de quem fecha a torneira enquanto escova os dentes, que separa em casa seu lixo por categoria mesmo sabendo que ele será novamente misturado pela companhia de limpeza pública, que faz uso da coleta seletiva apenas em comercial de televisão.

Diante da constatação de que o planeta em que vivemos passa por acelerado processo de envenenamento, do qual não escapa nem mesmo os oceanos, toda ação contra o meio ambiente merece repulsa. E olha que nem falei de quem limpa o nariz em público, palita os dentes em restaurante ou cospe no chão. É que esse negócio de lixo pela janela do carro em movimento tira qualquer um do sério.

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