segunda-feira, 2 de março de 2009

INACEITÁVEL


O “Velho Chico” não é latrina

Recebo e-mail do jornalista e escritor manguense Carlos Diamantino Alkmim, radicado em Belo Horizonte, onde trabalha na assessoria de imprensa do Governo do Estado. Diamantino relata cena lamentável presenciada por populares na Praça da Cultura, em Manga, na quarta-feira de Cinzas, poucas horas depois do encerramento da festa de Carnaval patrocinada pela Prefeitura local.

Um funcionário da empresa contratada pela organização para instalar banheiros químicos durante o Carnaval local despejava tranquilamente, às seis horas da manhã, baldes de dejetos acumulados durante os três dias de folia no barranco do Rio São Francisco, a poucos metros da sede do Fórum da cidade de Manga. Desnecessário dizer o conteúdo dos baldes e do mau-cheiro que exalavam.

O péssimo exemplo de descaso com o “Velho Chico”, ainda o rio da integração nacional, foi presenciada pelo secretário de Comunicação de Minas Gerais, Sérgio Esser, que é casado com a manguense Sandra Diamantino e faz visitas regulares ao município. O jornalista Diamantino junta-se ao coro da indignação do secretário Esser e da sua irmã Sandra e tento traduzir aqui um pouco do estarrecimento deles com o fato.

O gesto, por desproposital, mostra o quanto estamos distante da consciência ambiental necessária à salvação do planeta e que se solidifica por pequenos e cotidianos atos em favor da mãe terra. A negligência do funcionário fez Manga retroceder no tempo em pelo menos 200 anos, quando a corte portuguesa chegou ao Rio de Janeiro. Vice as cenas registradas nos livros de história, em que escravos, também logo ao raiar do dia, desciam com pesados tonéis rumo ao mar para ali atirar os péssimos odores da eleite de então. Manga não merecia voltar a tal estágio da nossa civilização, quando se achava que o mundo era vasto e sem fim e seus recursos de infindável serventia.

Decerto não é a maior agressão que o "Velho Chico" já recebeu. Ainda estão vívidas na memóri da gente nativa o ataque de cianobactérias que infestou seu leito há pouco menos de dois anos - quando o rio exalava todo final de tarde um odor parecido ao de enxofre ou de ovo podre, resultado do esgoto sanitário que recebe ao longo do seu curso. Mais um motivo para que a cena presenciada pelo casal Esser fosse evitada.

Todo o esforço da administração para manter acesa a tradição do Carnaval no município (a Praça da Cultura recebeu primorosa ornamentação para ocasião, embora a qualidade musical das bancas contratadas deixasse a desejar) cai por terra pelo acintoso desrespeito ao rio, à população e aos serventuários da Justiça ali do lado em razão desse ato tolo e preguiçoso de querer usar o rio como esgoto.

O rio, tão maltratado e esquecido, não é latrina. De modo que é inconcebível que uma empresa contratada pela Prefeitura de Manga não tenha essa percepção tão primária. Quem sabe o Ministério Público local tenha algo a dizer a respeito. Se nem tanto pelo prejuízo ambiental, que não chega a ser irreversível, mas para conter excessos que só servem de mau exemplo. A organização do Carnaval de Manga também deve explicações sobre o episódio.

6 comentários:

Miriam disse...

Puxa, você também se encheu daquele UNIBLOG. Faz tempo que estou no blogspot, é bem melhor. Não consigo acessar nada dos meses anteriores naquele blogue antigo meu. Gostei deste novo visual.
Beijos.

Anônimo disse...

A Prefeitura de Manga deveria incluir no contrato dessa empresa duas cláusulas. Uma obrigando-a a dar destino correto às fezes e urina coletados pelos banheiros químicos; outra, de natureza penal, estabelecendo uma multa pesada em caso de descumprimento da primeira. Além disso, devia trocar de empresa

Anônimo disse...

Parabéns, Diamantino, finalmente surge alguém ligado à assessoria do todo poderoso Governo de Minas em defesa do Velho Chico. Gostaria de saber onde o senhor estava quando o governador Aécio Cocôto fechou os olhos e a boca, dele, de seus assessores e dos municípios, quanto à transposição do Rio, sem a necessária revitalização. E quando se fala em tratamento de esgoto, é imposto ao povo o preço mais caro do mundo, da Dona Copasa. Reclamar de três baldes de merda é fácil, quero ver é o ilustre jornalista usar a influência que imagina ter para esculhambar o Governo de Minas, o Governo Federal e as poderosas empreiteiras que mamam a grana da transposição. Aí, meu amigo, é merda demais para seu carrinho, não é?!

Unknown disse...

Realmente é muito lamentável o fato acontecido, que fique como alerta para as próximas datas festivas

Anônimo disse...

J J:
Agressões ainda piores acontecem todos os dias, durante anos. O chamado "Porto da Balsa", nada mais é do que um barranco, cujo atracamento das balsas só é possivel devido as toneladas de barro que são jogadas as margens do Rio todas as semanas. É sabido por parte de todas autoridades manguenses, o grande mal que isso tem trazido ao leito do rio. Anos e anos de assoriamento voluntário, mas nada é feito para amenizar os efeitos deste catastrófico crime ambiental.
Os empresários balssistas, podem sim, reunirem-se para a solução do problema, procurar uma alternativa para mecanização do sistema, mas enquanto ninguém toma providências e o rio não morre, aos oportunitas empreendedores vale apenas a lei do lucro fácil. Aliás o serviço prestado por eles aos cidadãos que não possuem outra alternativa, é de péssima qualidade. Atravessar o rio são francisco de balsa nas cidades limitrofes do extremo Norte de Mina, Matias Cardoso e Manga, é uma atividade: Caríssima, arriscadíssima, perigosíssima e muito contribuitiva para a destruição do Velho Chico.
Latrina, Só isso? Que Nada! fazem deste patrimonio natural, O Velho Chico, um verdadeiro depósito de descaso!

Anônimo disse...

Carlos Diamantino Alkmim e Sérgio Esser de nada podem reclamar. Ou será que eles se esquecem que seus cocos e xixis também vão parar no Velho Chico. Moram em BH, cujo esgoto é todinho lançado no Rio das Velhas e depois vai desaguar (esgotar seria o termo) no São Francisco.

 
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