quinta-feira, 14 de agosto de 2008

Foi um rio que passou...

Não é recomendável convidar para a mesma quermesse o deputado estadual Paulo Guedes (PT) e o ex-candidato a prefeito de manga padre Wellington Xavier (PHS). O chope pode azedar. Explica-se: é que ainda vão repercutir por um bom tempo os efeitos da esquisita renúncia de Wellington Xavier à indicação de candidato das oposições no dia 30 de junho, prazo final para a realização da convenção que sacramentaria o seu nome como candidato das oposições no município de Manga.

A condição exigida pelo padre Xavier para ser candidato era a de ser apoiado pelos caciques locais Haroldo Bandeira (PMDB) e Humberto.Salles (sem partido), em costura política patrocinada pelo por Paulo Guedes. O deputado PG conseguiu o feito e, na hora "H", padre Wellington pulou fora do barco. Para justificar o ato, limitou-se a enviar um lacônico bilhete ao local da convenção do PT em que alegava razões de foro íntimo para desistir da indicação.

O gesto tresloucado do padre jogou as oposições em inesperada crise política. Após o impacto da decisão do padre, as lideranças optaram pela esquisita aliança em que Haroldo Bandeira seria o titular em chapa formada ainda pelo petista Anastácio Guedes como vice. Anastácio vem a ser irmão do deputado Paulo Guedes e a aliança contava ainda com o apoio em carro aberto do ex-prefeito Humberto Salles em cena impensável na política local.

Após forte rejeição do eleitorado, o estranho acordo político foi abortado em menos de 48 horas com a desistência de Haroldo, que saiu do grupo e partiu para candidatura solo. Para o deputado Paulo Guedes, a crise toda foi provocada pelo comportamento dúbio e errôneo do padre Wellington. Não são muito lisonjeiros os adjetivos que o deputado PG tem utilizado toda vez que, por dever de ofício, é obrigado a citar o nome do ex-aliado. O deputado acusa o desgaste do episódio em que se viu metido até a medula na contingência de ser o fiador de uma aliança entre as facções políticas rivais conhecidas como "bocas pretas" e "orelhas ralas", que historicamente estão associadas aos nomes dos ex-prefeitos Haroldo Bandeira e Humberto Salles – respectivamente.

A mágoa de Guedes diz respeito às idas e vindas de Wellington Xavier. O padre chegou a filiar-se ao PT ainda em 2007, mas desistiu dias depois com o argumento de que o bispo da Diocese de Januária, dom Anselmo Müller, o convencera a desistir da carreira política. A verdade era outra: o padre Xavier havia fechado acordo com o vereador Maurício Magalhães (PSDB) para filiar-se ao PHS. Algum tempo depois, o padre e o vereador se desentenderam. Magalhães ameaçou vetar a indicação do padre pelo PHS porque já havia embarcado na canoa da reeleição do prefeito Quinquinha Sá (PPS) e não admitia concorrência. Sem saída, o padre recorreu novamente ao deputado Guedes para tentar contato com o PHS estadual, onde consegue a anulação da executiva provisória local até então nas mãos do vereador Maurício.

O resto o leitor já sabe. O padre chegou bem perto de onde queria, mas desistiu na última hora em episódio ainda não explicado. Após o vexame da renúncia, Wellington Xavier deixou de visitar a cidade de Manga, coisa que fazia com freqüência. O deputado Paulo Guedes diz enxergar as digitais do prefeito Quinquinha Sá no episódio da desistência do padre Xavier, mas faz a ressalva de que não consegue provar. Com base em quê?, o leitor já deve ter se perguntado. Com base no argumento um tanto quanto frágil de que o atual prefeito e candidato à reeleição foi o principal beneficiado com a saída do padre do processo. Paulo Guedes admite perda política com o episódio, mas avalia que será julgado pelo conjunto da obra que apresentar durante o mandato que nem chegou à metade. A conferir.

A lambança provocada pelo padre Wellington na sucessão manguense ainda vai longe. O deputado Guedes carrega pelas mãos o candidato Henrique Fraga (PP), um neófito na política que tem remotas – e bota remotas nisso - chances de perturbar a ampla dianteira que o prefeito Quinquinha parece ter obtido rumo à reeleição. Vale reforçar a recomendação para não juntar na mesma micareta o padre e o deputado. O caldo pode entornar.
 
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